Arquivo mensal: julho 2009

Um tema dos mais “tematizados”

  Dinheiro não. Ele não compra se eu já tenho – vontade e  iniciativa. Também não preciso de tempo e dedicação (completa). Não preciso de toda companhia do mundo se sozinho sei o que quero. Não preciso do amparo da sociedade, da “aceitação” e de todo o resto. Nem do protocolo, nem dos gestos. Nem das doutrinas, nem das leis. Nem da tal esperança de que um dia alcançarei, sendo que essa distância é psicológica e a real é de pouco mais que um passo.

   Não precisa ser esperto e/ou audacioso, é mais uma questão de “sentir”. 

  Sabe aquele violão velho e empoeirado, que não toca as cordas, mas a alma, presenteando os ouvidos com o que você precisa ouvir? Pois bem, é ele. Sabe aquele abraço que só é dado para ser retribuído com um sorriso? Sabe aquele “eu gosto de você” que é dito com sinceridade, buscando com o ato nobre o prazer de ser correspondido? Sim, são eles. Sabe aquele beijo, que é dado para dormir pensando e enquanto ainda está sonhando, cogita como se repetirá? Ah, com certeza, é isso.

   Gosto é de passar vexame e assinar embaixo do “assim que eu quero”. O hoje é um improviso, o amanhã imprevisto e o ontem raiz do que já foi feito.

Ainda tem gente que diz não saber onde a felicidade está. Não é que não sabe, é que não nota.

 

 

Nota: Quase um “auto ajuda”,  mas o bom do “brega”, é a simplicidade.

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Desafio a evolução ao me tornar eterno

  Hoje eu assistia ao clipe “We are the world” que reuniu grandes nomes da música internacional. Em um momento da música entra ele, tão célebre como nunca: Michael Joseph Jackson. Uma pausa. Um silêncio. Melancolia; Michael Jackson morreu. Demorei me dar conta disso. Não sejamos tolos, não aconteceu nada dia 25 de junho de 2009. Michael morreu em meados de 1986 e isso é ainda mais triste. Aquele que teve um velório digno de astro há alguns dias, era um personagem.

   Enquanto assistíamos aos clipes, um amigo disse, “isso vai acabar, cara… Essas músicas não vão mais existir” – nesse momento escutávamos Tracy Chapman com “Baby can I hold you” –, eu o interrompi com, “Vai acabar? Já acabou! Nós estamos assistindo um DVD que se chama flahsback e foi comprado na feira, único lugar onde podemos encontrá-lo com facilidade”. Ficamos um tanto quanto demasiados. A realidade quando passa diante dos olhos, deixa um belo tapa, e arde de forma que metáfora alguma explica.

  A conversa foi boa, mos o conteúdo restante é irrelevante, exceto quando citamos uma reportagem do Jornal da Globo – costumo assisti-lo enquanto espero o gordo entrar cena. A reportagem consistia em uma impressora que imprime em 3D (três dimensões). Ela cria uma réplica perfeita de qualquer objeto que seja projetado no computador. Ela possui dois cartuchos, um com um fio de plástico que molda e o outro com um fio de suporte. A impressora une suporte e molde em camadas mais finas que um fio de cabelo e pronto, constrói o objeto, até mesmo com partes móveis (que já saem montadas) em um plástico resistente. Entusiasmado, encabulado, curioso? Não, eu fiquei com medo.

   O site trás como título da manchete “A Revolução no mercado de impressoras”, façamos valer a ignorância de quem gosta do que é “original”. Eu não sou um “anti-progresso”, um atrasado, obsoleto, ou coisa assim. Sou a favor da vida – por mais que eu viva falando da morte. Sou a favor da sociedade para todos. Claro, é aquela que nunca vai existir, mas nem por isso precisa tornar-se cada vez mais injusta. Francamente, revolução, para mim, é a Francesa, que impulsionou muitos movimentos de liberdade, tão como o abolicionista e revelou ao mundo homens como Robespierre (um tirando ou não. Um político que falta no Brasil – risos). Revolução para mim é a Farroupilha que desafiou as autoridades imperiais. Ou até mesmo, a célebre Revolução dos Bichos, escrita por George Orwel satirizando a Revolução Russa. Impressora que “imprime” qualquer objeto que a mente humana permita inventar, não é revolução. A tal impressora produziu peças para construir uma máquina igual a ela. Falando assim, parece que tomou essa decisão sozinha. Eu não duvido.

   Meu medo é desnecessário sendo que o temido já acontece. A tecnologia insiste em criar, insiste em ganhar mercado e nós somos obrigados a “consumi-la”, para não sermos excluídos do “processo social”. O terror está aí. Não há problema em inovações que auxiliam o homem, o problema é o homem tornar-se escravo de tais inovações. E infelizmente é o que acontece. Eu penso nos milhões de desempregados quando a impressora revolucionária virar moda. Mas quem importa? Ela vai diminuir custos, contribuir para a economia. Que assim seja. Depois do livro digital (já em uso) deve vir o escritor digital, o leitor digital e um blog só para as máquinas. Entretenimento para elas.

  Eu vou cruzar os braços e esperar acontecer, já que minha indignação é insignificante diante da arrogância do capitalismo. Vou esconder minhas folhas de papel e meu lápis de madeira enquanto posso. Terminamos a tarde nostálgica, ao som de Dire StraitsSo far Away, a última música do DVD e a genialidade de um rock imortal.

 

Ranunes e A Valsinha da Evolução:

 

“A infância corrompida

A adolescência libertária

A adulta adúltera adulterada!”.

 

Um escritor de blog e um texto de blog.

Mais de mil visitas é algo que realmente me encoraja a escrever. Aliás, “coragem” não é a palavra ideal. O fato antes mencionado me remete a uma “obrigação” que eu nem sabia que tinha; a de atualizar isso aqui. Há cerca de três dias que eu me sinto fechado e isso parece uma eternidade. Meus dedos não respondem ao tocarem a caneta ou o teclado. Talvez porque o cérebro não tenha as ordens. Talvez porque o próprio cérebro esteja congestionado. Mas dessa vez é diferente, é muita coisa inútil, é muita merda e nada para consolidar.

Pode ser que isso seja um sinal. Para que eu torne os meus dias menos entediantes e passe a ocupar melhor o meu tempo. Uma amiga disse que esta quinta-feira tava com cara de quarta. Para mim ela não disse nada, pois meus dias são gêmeos, a terça é igual à quinta, a sexta e todo o resto. Nessas horas eu até sinto falta da segunda cansativa, do domingo depressivo, da sexta entusiasmada e do sábado agitado. Na época em que meus dias tinham “cara” e minha vida mais utilidade.    

 Esse é um típico texto de blog. Desci da escultura vanguardista e assumi o papel do “original”, do “típico”. Onde o autor chora pro leitor e esse tem que fingir que gosta. Essa deve ser a realidade dos milhões de twitteiros, blogueiros e afins. Os depressivos da era moderna. Os “odeio todo mundo” que tem três perfis no Orkut. É a onda sentimental da internet, a moda da crise virtual, a ascensão da falta de bom senso.

 É fase. Como todo mundo diz, é fase.

Os Amantes

E tudo começa com um toque de mãos… Mas sabemos bem como é, nunca para por aí. A mão encontrou os detalhes do braço e seguiu o percurso sem rumo. O seu corpo era um caminho tentador e suas curvas uma viagem sem coordenadas. Apalpou suas penas. As mãos sobem, a temperatura ascende, a respiração é ofegante e ela solta murmúrios que, pela forma desconcertada, não se permitem serem gemidos e altos demais para serem suspiros. Emitem ruídos. Um som abafado, por sinal – um grito que ninguém pode ouvir (fatalmente traduzido como apelo). Enquanto ambos os braços passeiam, eles elaboram cenas, fetiches… Visualizam as em mente até que cada um deles acredite. Isso é a carne que grita, é o coração que pede é a pele que responde sem optar pelo “não”. O corpo é inconsequente e deveras irritante, busca o hedonismo mútuo sem obrigação nenhuma com o pudor. É a carne, eu digo, é a carne! Pulsando o sangue, guiando os músculos, libertando a mente… É a carne! Na medida em que se dá continuidade ao ato, eles se sentem ainda mais sufocados, ambas as bocas se pressentem e se procuram, mas não se encontram. Tocam-se, mas há algo entre eles, há algo entre os rostos, há cordas nos pescoços há duas vidas há tempos vistas entre “nós”. Não se enxergam não se beijam e não concluem os desejos. talvez seja uma vedação pré-estabelecida pelo compromisso de um matrimônio, talvez seja a mente imaculada de um adúltero no auge do ressentimento. Talvez sejam lacres pré-estabelecidos, tampando-lhes os rostos, inibindo a capacidade de sanarem a cede e reduzindo-lhes a capacidade de enxergar além. Uma porta se abre aos fundos, se separam tão rápido quanto se abraçam e, ainda atordoados, cada um segue seu rumo, sem rumo, esperando que o amor explique o que há de pior. Aguardando que o desejo e o sentimento lhes desatem os nós.

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Um bar e um desabafo às avessas

 Dizem que no final da tudo certo. Mas eu não sei quando vai ser… E a te lá? Eu não tenho escolha? Espero, sem ter certeza desse destino, condenado ao labirinto da emoção? Meus anseios são tão simples que chego a acreditar que é injustiça não tê-los às minhas mãos.

Eu queria alguém para eu poder ligar durante a noite e dizer “liguei pra dizer boa noite” e na sexta-feira, quem sabe, um “te vejo amanhã?” ou “te busco às oito horas”. Eu queria alguém para sair de mãos dadas no sábado à noite. Sair sem rumo, sem planos… Entende? Nem que seja para sentar numa praça qualquer ouvindo uma música que só existe aos nossos ouvidos. Olhar a lua, tomar um vinho… Não esperar nada dos outros, da rua, da vida. Eu queria coisas simples, pois são essas as que marcam. São as que rompem barreiras que o coração insiste em criar. Coisas que o tempo não “cura” e que a saudade não esquece. Coisas simples, eu digo.

Eu queria alguém para ouvir a música que compus, ao som do violão que já não toca. Talvez até eu mesmo tenha deixado de ouvi-lo, pois a melodia em si torna-se morta quando para o criador já não faz sentido. Eu queria companhia, repito, eu queria uma companhia em carne e osso, do resto eu me encarrego.

Eu queria alguém para sorrir comigo do nada, sorrir do que não tem graça. Sem cobrar respostas ou buscar um sentido. Eu queria alguém para compartilhar comigo do que não pode ser entendido, do que para os outros é até tolo e que para nós é uma piada bem contada, que provém do coração.

Chamarão de carência, chamarão de amor, chamarão de depressão oriunda de um domingo nublado. Eu, de nada chamo, a essa altura a nada clamo. Na verdade passo tanto tempo desejando-a, que não o desperdiço tentando nomeá-la, eu já disse, é tudo tão simples que descrever com tanta perfeição e explicação é desnecessário, já que não é só assim que poderei “criá-la”. Complicado, não? Deve achar que sou sozinho, mas não…  Eu sempre tenho alguém, mas nunca tenho companhia. Eu sempre tenho os beijos, mas nunca o afeto que devia recheá-lo, o que só deixa-me mais vazio. Eu sempre tenho abraços, mas nunca aquele sincero e espontâneo de quem não tem pretensões com o ato e traz ao redor dos lábios o verdadeiro sorriso. De tanto oferecer, acho que me falta ser retribuído. Como disse, é injusto, não?  O que eu tanto quero? …Eu só quero esse alguém, seja lá quem for.

Artur despede-se do cara que está atrás do balcão, que ele nem mesmo sabe o nome. Contudo é a única pessoa com quem ele tem um contato diário, por mais que nunca tenham trocado uma palavra. Ali é onde ele alimenta a única coisa que nunca vai deixá-lo: O vício.

Colocamos à prova o termo da existência

Norman Cousins:  “A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto ainda vivemos”.

Estamos todos mortos.

Para que a coerência do título fosse mantida, bastava cair sobre nós algumas toneladas de terra. Faria jus ao título, preservaria a introdução e uma verdade que já perdura algum tempo.

Esses dias eu andava pelo mercado, vi uma xícara exposta à venda. Gostei dela, parei na loja e peguei o objeto. Nela estava escrito “arte” em sua lateral. Para muitos apenas uma palavra ilustrativa. Para mim era mais que isso. Era uma metalinguagem bastante peculiar. Aquilo deu brilho à xícara. Deu-lhe vida. Enquanto a manuseava, notei que no fundo tinha grafado: Made in Taiwan. Era o que bastava. A xícara morreu ali, na hora.   Essa xícara provavelmente foi feita por falsos “trabalhadores” que na verdade são escravos do capitalismo. No sentido literal, eu digo. São submetidos a atividades e cargas-horárias desumanas e entre esses estão crianças, que tiveram a infância assassinada tão como o objeto que elas ajudaram a produzir. São cidadãos como qualquer outro e estão em toda parte do globo terrestre.  O clichê da “mão-de-obra barata” esconde um arsenal de horrores e essa mão-de-obra ESCRAVA é o paraíso das multinacionais. Essas que talvez matem ao ano, tanto quanto o câncer, a diferença é que os dados do câncer saem no jornal.

Na mesma loja notei que uma senhora acompanhada de dois filhos comprou duas canecas. Uma para cada criança. Eram canecas mortas, pagas com um dinheiro morto e banhado de sangue – esse que já morreu há séculos, talvez assim que nasceu. Em uma das canecas estava escrito “amor” e na outra “vida”. Antemão eu também achei uma irritante ironia, mas a palavra que melhor preenche as lacunas dessa situação é “hipocrisia”. Somos hipócritas a ponto de declarar que não temos conhecimento da barbárie. Somos hipócritas a ponto de nos sentirmos melhores por acreditarmos que não podemos fazer nada, fazendo com que isso alivie a culpa e purifique a consciência. “Hipocrisia infinita” é o nosso combustível.

Convenhamos… Para um ter emprego, dez são demitidos. Para comprarmos um produto que teve um custo de produção de dez reais, pagamos trinta, ou até mais… Alimentamos diariamente o ciclo vicioso do comércio, da extorsão, da injustiça. E o que expande a desgraça toda, é o (falso) argumento de que é tudo necessário.

Definitivamente, estamos mortos. Nós fechamos o vidro do carro no sinaleiro, para não olharmos nos olhos do garoto de doze anos de idade, usuário de cola desde os quatro, para que, consecutivamente, não corrermos o risco de assumir uma culpa, que segundo nossos falsos princípios, não é nossa… Vou mais além, não queremos encarar o espelho da nossa sociedade estúpida, que escola diz que devemos respeitar. Negligenciamos o fato de que aqueles “pedintes” estão mortos e ajudamos todos os dias a matar os que chegam.

Eu, caro leitor, estou morto, não só por compartilhar com vocês da tão citada hipocrisia global, mas por além de tudo, reconhecê-la. Por estar repleto de um sentimento que maltrata ainda mais: A impotência. Estamos mortos e não sei dizer a quanto tempo.

Transitar pelas ruas da cidade é como andar em um necrotério, a diferença é que não é tão calado quanto lá e não aceitamos os fatos, tão como buscamos soluções alternativas para tornar tudo invisível. Um pouco diferente dos corpos estirados em uma sala do IML, que estão isentos de qualquer reação.

Contudo, vamos – ironicamente- preservar as palavras de Joseph Stalin para fugir da tendência depressiva – “uma morte” é tragédia, “milhões de mortes” é estatística.

Sem título.

Vivo uma crise existencial constante. Bem camuflada e maquiada, vestida de branco, preto e vermelho. Pronta para a próxima festa de rock. Pronta para mais uma dose… De whisky de heroína e de rancor. Falo de uma crise existencial reflexiva, diferente daquela coisa emocional, antes dos góticos, e  que agora deve pertencer aos que são “reconhecidos” como emos(?); a tal crise de identidade. A minha crise tem carro, TV 42 polegadas, cash no “bolso”, sangue no corpo, talvez “isenta” de alma e de palavras, mas sempre onisciente a tudo, dona apenas da vontade, pois a carne é do mundo e o dinheiro é do governo. Ela usa um bom perfume, exala um ar de atração, ela mostra uma superioridade que não tem e uma ascensão que nunca existiu, mas entre outros ela é a dona da razão. É dona de um olhar penetrante, que desonra os desfavorecidos e enobrece os donos da humildade, pais de uma “intelectualidade moderna”. Sou um conjunto de carne ambulante. Nada aceito, nada recuso só me isolo. O conjunto de carne e sua crise existencial. Distantes no contato, juntos na construção de um eterno silêncio.

É assim que sabe quando encontrou alguém especial. Quando pode calar a boca um minuto e sentir-se à vontade com o silêncio” (Mia;  Pulp Fiction).


Inovar agora é manter

Olá, seja bem-vindo(a) à sociedade contemporânea, aquela que fez por merecer o mais (talvez o único) sensato dos rótulos: Sociedade clichê. Logo essa palavrinha tão boa de falar, derivada do belíssimo Francês. Para “abrir com chave de ouro”, façamos a análise de que nós não existimos, simplesmente representamos. Uma representação do que já foi feito, uma representação do que já foi vivido, a sombra do que já foi bom, as sobras do vanguardismo, tão somente um clichê. É comum vê-se exaltar o fato de que somos inovadores… Batamos palmas para o “mundo moderno”? Blasfêmia! E “mentira tem perna curta”! Exemplo: Hoje o diferenciado é a moda vintage, aquela derivada dos séculos passados. A Wikipédia conceitua: “Moda retrógrada… Uma recuperação de estilos dos anos 20, 30, 40, 50 e 60”. Recuperação? Não, não mesmo. “Panela velha é que faz comida boa”? Que nada, isso é uma cópia! Uma continuação… É a aceitação de que bom é o que já fizeram há muito tempo e o melhor é que todos já se esqueciam. Eu, particularmente, gosto muito, mas já é uma continuidade. Os botões, as batas, os tênis, os vestidos, as camisas, as camisetas, as calças, o xadrez, as listras, as cores, os óculos… Vintage deixou de ser a moda “antiga”, agora é a mania em “apreciar” tudo o que é velho, não obstante a nossa incapacidade de criar. As guitarras antigas, os violões antigos, os cadernos antigos, os filmes antigos, são todos melhores! É assim, ou apreciamos o lixo atual ou vivemos num intenso clichê. Uma repetição constante, uma mesmice. Na novela, o mocinho sempre termina junto com seu amor. Aos olhos da justiça os poderosos são inocentes, os menores assassinos são apenas crianças. A culpa é do estado, a culpa é do presidente, a culpa é da superlotação das cadeias… Na política o horário eleitoral é o mesmo, ou nos submetemos ao “Caro povo brasileiro…” ou desligamos a televisão. Alguns meses depois iremos ouvir, “esse dinheiro não é meu”, e logo após a, “uma boa noite e até amanhã”, não saberemos o destino dos questionados, no dia seguinte a Fátima terá outras “notícias” e a impunidade, que deveria ser lembrada, cai no esquecimento. Mas os clichês não, esses continuam: “O que acaba com o Brasil é a corrupção!”. E a desinformação, será se não influencia? Essas são as tendências; Fazer da rotina um jargão! Tornar da contemporaneidade o senso comum da vida. Fazemos isso porque “o mundo é dos espertos”. Pulamos na merda e estamos nela, nadando de braçada, pouco importa se sairemos ou não, cabe a nós aproveitar o momento. “Viva cada dia como se fosse o último”, até o “Carpe Diem”, aquele (colha o dia ou aproveite o momento) que cabia diferentes interpretações, caiu nessa lástima. Aceitamos a condição por alguma deficiência de raciocínio ou por conveniência. Vou concluir esse texto dando vida ao que foi introduzido, afinal, “brasileiro não desiste nunca!” e viveremos todos na incumbência de terminar os nossos dias com um, “felizes para sempre”.

Eles

Capítulo primeiro: Devaneios.

 Dele:

“Nossa, como ela é bonita, Artur, tu conhece aquela ali?” – o Artur não respondeu, nem mesmo viu a moça, o álcool que ele tomava foi quem assumiu a ação e por vez tomou… Não a sua própria essência líquida, mas a consciência do homem que a consumia.

Dela:

“Fernanda… Olha só! Ali, canto esquerdo, perto do balcão” – a amiga devolve – “o bêbado?” – impaciente – “Não, tola, ao lado, o de camisa azul! Está conversando com o bêbado! Pelo visto estão juntos”.

“Huuum… Esse é bonitão, amiga”.

 Deles

 Ele encara.

 Ela se esquiva.

 Ela vai para a pista, quer chamar atenção, valoriza o corpo que tem.

 Ele olha de longe, acha que ta fazendo charme, acha que desperta interesse de alguém…

 Ela ta ansiosa: “será se ele me viu? Devo chegar mais perto?”

 Ele é tolo, antecipa a derrota, foge da gloria, mal sabes a chance que tens… “Muito linda, mas é muito mesmo! Essa não é para o meu bico, to dando bobeira intimidando a moça!” – faz cara de frustrado, vira de costas para a pista.

 Ela nota o feito, dá-se um ar de ‘bem feito’ – “quem mandou ser tão oferecida?!” – vai pro canto, pede uma bebida, alimenta a angústia e a esperança da aproximação do rapaz.

 Ele se apunhala, ‘engole erros’ em infinita sucessão – “eu sabia que ela tinha notado, saiu nervosa! Sou um canalha, que vergonha, não vou mais olhar…” – pega o copo, sai de fininho, senta no sofá mais afastado, na extrema direita do bar.

 Ela repete o feito, indo à esquerda, fugindo da multidão, conformada com a solidão, mas tinha no fundo um intuito (persistente) de que ele notasse que ela afastou dos outros para dar-lhe espaço. Isso nem passou pela cabeça do rapaz…

 

“Vamos lá fora, amiga! Ele vai ver e vai nos seguir…” – descontente a moça diz – “duvido muito… Mas vamos sim, é bom que tomo um ar”.

 

 Ela se enche de esperança.

 Ele é tomado de raiva! – “Sabia que ia dar nisso! Foi embora… Se ao menos soubesse o seu nome! Artur… vamos embora, a festa acabou”.

 Artur partia em direção à saída, quase atrás da moça… “Por aí não Artur, o carro ta atrás, vamos pelos fundos” – responde Ele, desapontado com a noite e com as (aparentes) poucas chances.

 Ela volta, na mesa frente ao sofá, apenas um copo vazio. O bêbado também sumira, “foram embora” – pensou. Sem dizer uma palavra, apanhou a bolsa e saiu. A amiga seguiu dando continuidade ao silêncio.

 

Um carro pela frente, o outro pelos fundos do bar… Um rumo ao norte, outro ao sul. Dois desamparados e seus dois bêbados.