Das desilusões auto-iludidas e o que resta

Ei moça, eu posso até dizer que tenho raiva, posso até dizer que me causa mágoas, mas escondo as reais palavras, escondo a verdade que me aflora e os sentidos que de mim se apoderam. Escondo-me de ti, por receio, ainda que aos poucos me note e eu me esquive como alguém que nega.

Ei moça, eu até finjo ser um alguém de coração duro. Eu até me faço valente, inerte à maneira que se encontra o mundo… Indiferente às mazelas expostas… indiferente às feridas nossas. Mas por aqui as coisas são diferentes, eu gosto de deixar assim, com o escuro aspecto de guardado. Eu opto por fazer dessa forma, por medo de que eu não entenda as minhas lacunas; por receio de que não esteja ao meu lado…

Ei moça, eu olho pra você e finjo traduzir uma frieza, eu fecho meus olhos e morro por dentro, mas eu faço de tudo para que não veja, mas faço impossível para que você eu veja (sempre). Num círculo vicioso de quem não sabe o que quer, mas gosta que seja assim. Eu não entendo; você não sabe (…). Eu tenho desejos que confrontam com o risco de que você escape e a angústia apaixonante da dúvida é que não tem fim.

Ei moça, eu me pergunto o que será de nós. Eu me pergunto o que farei quando ficarmos a sós. Eu tenho medo do que eu possa ser quando tudo deixar de ser assim… Ah, mas pouco a pouco vou pedindo arrego, pondo pontos nas conjecturas me inserido adentro e deixando, numa pausa longa a porta se abrir. Mas ainda aguardo desbravar o mundo, vencer os meus monstros e me tornar um rei num trono de marfim.

Só que um dia desses, num amanhecer, eu tinha guardado longe demais o que era feito para “ser”  e você simplesmente deixou de me esperar, assim.

E foi aí que eu descobri como é morrer e continuar vivendo. Induzindo à própria ilusão, construindo o próprio sofrimento. E foi no dia que eu olhei pra fora e gritei por mim.

Ei moça…?