Arquivo mensal: junho 2011

Bendita Ignorância

Sou regado a um saudosismo insosso, que nenhuma presença bucólica pode reverter… Mais do que das vitrolas e seus Vinis, é saudade dos tempos de ignorância. A essa altura faço-lhes uma declaração: preferia acreditar que as crianças viessem mesmo da cegonha! Eu não sabia o que era o mundo, não sabia do que se tratava tudo e confesso, era tão mais bonito. Tinha mais brilho, mais cor, entendem? Viver fazia tanto mais sentido… Conhecer é ter de encarar uma verdade estabelecida e justificada (ao menos na filosofia é mais ou menos isso), ter de vivenciar uma realidade única, chata e insolvente. Eu não sabia o que era morrer de alma e continuar vivo, transitando, até o corpo padecer e se sucumbir a uma das poucas verdades irrenunciáveis do ciclo vital: a partida! Não sabia o que era chorar por dentro e continuar sorrindo, satisfazendo convenções sociais e evitando confrontos e questionamento…  Não sabia saber, eu passaria toda a existência sem conhecer o conflito soberbo da fantasia multiforme do infinito… E era quase que uma diversão sem fim.

E quando eu não sabia, eu sentia. E no sentir, aprendemos muito mais. Os sentidos enganam – diria Descartes -, é claro, mas ser enganado também é aprender. Hoje todo sentimento é frívolo e conceituado, todo afeto é arquitetado e estudado, visando um fim e eu sinto (quando isso ainda consigo) falta da ausência de motivos. “Só pra saber mesmo”, ou “só sei que é assim…” gozava de absoluta e inquestionável conveniência. Não queria saber de onde, para onde, como ou por que… Eu sabia, sem saber, que era para ser assim.

Depois que a realidade encerra com a fantasia, tudo fica mais triste. Saber gera responsabilidades. Tudo é tão careta, ideológico, medíocre, político, “certo”. Ou é teoria moderna, ou nem existe… Sendo que o bom é justamente não tornar conhecido nada disso, o anonimato das informações é a caixa de pandora, ainda que se torne o cavalo de tróia ou, quando na melhor hipótese, a porta do mundo de Alice. Nos paradoxos que cercam essa lástima, vejo que a relatividade é real, mas em nada importa, já que a realidade é relativa. Os argumentos não se justificam, mas se refutam. Como se tudo fosse uma materialização do mito da caverna às avessas. Não é a sabedoria que nos liberta e nos leva ao real, é o real que limita e nos prende num saber determinado e restrito.

Nós, que sabemos – e não falo dos geniais, nem dos intelectuais, nem dos que produzem conhecimento, falo de nós que sabemos que escuro é ausência de luz, nós que sabemos que o mundo é excludente e que a cada prato de comida que preparamos, é uma família faminta, e todas essas convicções a mais que transitam no novo senso comum –, somos pobres de alma, somos órfãos e corpos sem destino. Nós que depois de sábios deixamos de saborear da existência, condenados pela ciência, pelos veículos de informação, pelo coletivo demasiado de “pseudos”, sintamos falta da santa ignorância! Torço pela possibilidade de tudo ser platônico, um plano de ideias, ante o fracasso do sintético mundo complexo da matéria. Ou mais simples que isso, perto de algo como em Matrix. Pensar é uma tristeza e saber é um encargo que a sempre e desde então, me tem a posse.

Seria o fim? Não. Por sorte, não gozamos de absoluta onisciência, quanto mais achamos que sabemos, mais descobrimos o quão ainda somos ignorantes! É o que nos priva de  ruir e mais, é o que nos permite ainda existir e impede que a maturidade não seja uma transição antecipadamente “fadada ao fracasso”. Que a burrice cedo ou tarde, nos apodere.

Audácia do Amor com Ódio

Não nos entediamos mais.
Não nos beijávamos mais.
Xingávamos um ao outro,
Cuspíamos um no outro
E o respeito diluiu-se em sofrimento.

Tentamos recuperar esse tempo perdido
Batemos cabeça a fim de “dar um jeito”
Mas o amor é inconsequente,
Regado de situações declives
Havia de assim ser feito.

Nesse abismo funesto ela abriu mão.
Eu já previa esse desfecho
Refém daquela situação,
Com aperto na garganta e coração em mãos,
Fingi passar por satisfeito.

Com lágrimas nos olhos partiu,
Sabia que iria surtir efeitos
Antes de soltar minha mão
Olhou-me nos olhos e eu disse:
“Vai, mas volta, que sem você não sou o mesmo”

Ficou e a vida nos deu atenção.
Do amor e sua peripécias,
Ainda que nos batamos com pétalas,
Não há espaço para razão.

Nota: Primeira poesia desse blog. Poucas vezes me arrisco por esse caminho, já que a poesia exige uma sensibilidade ímpar. Com sorte pude produzir algo que me agradou e compartilho aqui.

Grato.

Luiz Phelipe Fernandes.