Arquivo mensal: junho 2009

Noutra noite.

Eu me cansei…

Da improdutividade, da ausência de motivos, da ausência de sentidos, da ausência, tão somente dela… Eu me cansei das músicas, do violão, dos livros, das férias, dos dias, do Sol, ah… Esse principalmente.

  Eu em cansei da alegria me cansei dos sorrisos, me cansei da alienação, me cansei da decepção, me cansei da tristeza, não posso eu de tudo me cansar?

 Cansei-me de tudo querer, me cansei de nada querer… Eu já acordo cansado! Cansei-me de não ter um amor, me cansei de não querer um amor, me cansei desse nome…

  Cansei-me de existir, mas cansado demais estou para pensar em partir, cansado demais estou para sumir daqui, cansado demais estou para agora, na ultima hora, desistir… Sim, cansado demais estou, não sei como será daqui por diante, nem sei como foi até agora. Ao menos esse texto chegara ao fim, antes que eu me esgote de vez.

  Mais uma dose, por favor.

“O pensamento é o ensaio da ação”

 O céu está roxo, as ruas são de algodão, ou de textura semelhante, as motocicletas possuem asas e você é quem está lá, a guiá-las. Sim, pode parecer estranho, mas é como sua concepção sobre as coisas e o mundo pode atuar na sua mente quando você dorme e seu cérebro encontra-se diante de um conjunto de ideias sugeridas pelo sono: O sonho.

  A ciência, em função do seu papel técnico e científico, costuma nos apresentar “dados” que nos remete à realidade de que o sonho é tão bom quanto fundamental. Isso é encontrado em reportagens de qualquer revista de circulação nacional, não necessariamente as científicas – que exigem mais do nosso bolso e da nossa interpretação. O pesquisador Sérgio Tufik, diretor do Instituto do Sono da Universidade de São Paulo (UNIFESP), vai ainda mais além. Segundo ele, “sem o sonho morreríamos”. As teoria e afirmações sobre o assunto já duram muito tempo e já teve a participação de pessoas como, Freud – autor da frase que dá título ao texto – na psicanálise e Nietzsche na relação de imaginação e realidade diante da mente humana. Curioso, não?

  Os sonhos também são constituídos de fantasias, ilusões e utopias – segundo o dicionário -, pois neles alcançamos o inatingível, vivemos ou na perfeição ou no inferno – talvez seja o único momento em que essa antítese é sadia. O sonho nos proporciona sensações ora de prazer intenso ora medo ou tristeza afinal, “sonhar é acordar-se para dentro”. Concordemos com Mário Quintana.

  Pesquisadores afirmam que essa atividade estimula a criatividade ou, segundo a psicologia, serve de alerta para a consciência. O sonho não só “libera” a imaginação, como auxilia na diferenciação entre o real e o abstrato. Ele não ocorre apenas quando dormimos, mas também quando estamos acordados, diante de uma idealização inatingível ou um prazer que não esteja sendo realizado – não momentâneo. Funcionando como uma mescla entre desejo e objetivo, pois ajuda a partir desse a criar metas a serem alcançadas, que por vez caminham junto à nossa ambição, independente de elas serem possíveis ou não.

  Em tese, é imaterial, fruto da nossa imaginação, seja consciente ou inconscientemente, o impossível é evitá-lo. Sonhar é tão vital quanto pensar e/ou raciocinar, ambas, querendo ou não, vão atuar sempre. O ser humano é assim, não tão complexo quanto na prática (aparente), pois segundo a teoria, é tudo muito claro, é tudo muito fácil, a filosofia de “boteco” é que destorce as coisas.

Bosquejos de Vincent – Parte I

Estava no respaldo do meu quarto, me submetendo à lástima de idealizar a minha viagem sem volta, no caminho dito incerto, que para mim era mais que certo; nada mais do que o fim. Eu senti a melancolia do tempo – passível a todas as interpretações. O tempo cronológico, à hora certa, o meu momento; o segundo, um tempo “meteorológico”, o dia frio, a neblina constante. Essa angústia – disse a mim mesmo – é o espaço exíguo que dentro me resta. Aquele que não poderá ser preenchido e que me causa um vácuo de sentimento, oriundo de sua ausência. Levantei da cama, e mesmo sozinho, no auge (talvez) da minha esquizofrenia continuei soletrando esta aflição que soava como elegia; “vos que já não me pertences, tão pouco sentes o pesar que meu ato inescrupuloso causa-me…”. Calei-me enquanto pude, postei-me a rua. Fugindo não sei do que, muito menos para onde. Na rua, sentei no primeiro assento. Exposto ao frio desumano, esse adjunto de um vento gélido. Uma tortura justa e necessária. Eu senti que algo minucioso aproximava-se, nada via, ao chão talvez estivesse – não era o saco plástico cinematográfico de Sam Mendes nem o Gato Preto de Allan Poe. Assim ocorreu. Era um cão. Rastejava como um verme, não tão diferente de mim, era o escarro da sociedade. Nada mais que um vira-lata, pelagem imunda, sujeira que em mim residia por dentro. Fitou-me aos olhos, pensei; “ó céus, que fizestes eu para merecer tamanha mortificação?”– permanecemos, os dois, apáticos, de mutualidade no olhar, ele na condição de cão de rua, eu sem a dignidade de algo merecer, nem mesmo à condição de animal. Pouca sabia aquele desgraçado, o quão tormento seu comportamento me causara. O último a me apontar um olhar tão hermético fostes Helena, antes de eu matá-la – raciocínio que me rendera náuseas, há tempos seu nome não era citado, nem mesmo em pensamento. A cena ridícula permanecia inerte, ele não se mexia, tinha eu a impressão de que aquilo era um aviso, um escárnio para que as coisas se tornassem claras. Sem mais, o cão levantou-se e saiu, alargando ainda mais as lacunas da minha incerteza. O vento desta vez soprara outra melodia: “Helena te espera…”. Enfadado, me convenci de que era o certo.

Uma visita peculiar.

Ao inóspito que ressurge, causando uma sombra nos que estão presentes. Tão como um “vulto/surto” de quem já não sente. Seja falso, seja  verdadeiro ou só mais um ilusório. Tanto bom quanto ruim, é mais amigo dos mortos… Aos que crêm e aos que não, a mesma desconfiança,  fruto de uma imaginação dopada. Olhos que acreditam no que enxergam. Razão que interfere no fato. Imagem que intervém como prova… Um cenário distante e um momento incerto. Definitivamente, há um estranho entre nós.

“Angustiados” ou não, a Indústria Cultural vence!

 

No século XX, Jean Paul Sartre analisou o homem partindo do princípio do existencialismo. Sartre, entre suas afirmações, citara que “a existência precede a essência“ tão como, “o homem é a escolha que há”.

   Muito da sua filosofia chama minha atenção, mas o ponto mais peculiar do seu estudo é a forma com que ele enxerga e/ou apresenta o conceito “liberdade”. Não falo de uma concepção “externa” – contida apenas na essência imaterial das ações -, mas sim a liberdade conjugada à razão e a consciência.

   Este homem disse que o termo “status” é a negação do que o cidadão realmente queria ser, para acolher à tendência de massificação e uniformização de ideias e atitudes; a indústria cultural. Mal sabia o francês, quão comum essa expressão se tornara, e o quão banalizado tornara-se o ato de viver em prol disso. Outro termo comum à sua obra é “angustia”, – por favor, caro leitor, estamos falando de filosofia, não me venha com melancolismo! A palavra se desprende desse sentido – essa que, segundo o filosofo, é reflexiva, voltada à consciência (individual) em existir e tomar decisões.

   Por bem(?) não dotamos de uma filosofia tão íntegra e sensata na nossa atual “conjuntura social”. Essa angústia-reflexiva-existencial devia ser característica necessária do homem, devia tanto isentá-lo da imaturidade impertinente, quando assim fosse, como da insegurança em tempos “difíceis”.  Nós estamos soberbos do excesso de entretenimento… Nós temos shoppings demais, temos as lanchonetes dessas que funcionam 24h, típico da subway, e um McDonald’s durante o dia, temos a lástima musical, temos telenovelas para nos sobrecarregar de um drama alheio que nem existe… São todos os “subsídios” para que não possamos apoderar da nossa angústia. Negligenciamos essa situação e mascaramos a responsabilidade, com essas tolices que nos cercam diariamente, nos dando as circunstâncias favoráveis à alienação. Deixamos-nos ser vendidos, nos deixamos ser vendado, esse que por vez, fazemos com as próprias mãos e somos covardes demais para tirá-las, inúteis demais para notá-las e daí por diante.

   Acredito, assim como patriarca dessa teoria, que não existe nada após a morte, ao menos assim Jean Paul Charles Aynard Sartre, não se angustia ao ver a sociedade negligenciar todo seu estudo. Se eu estiver errado, nos perdoe Sartre, por tamanha ignorância… E descanse em paz.

Vizinha(?)

Às vésperas do alaranjado manchar o céu, no instante entre os mais belos do dia… Passo a passo ela caminha. Não tem pressa, é sutil, aos poucos põe abaixo a ladeira. Bela, por sinal. Não a ladeira; digo, não  a ladeira. O Sol não tinha compromisso, se estendeu enquanto pode. Contudo, o vermelho dos seus cabelos substituiu ao ambiente a cor que antes havia citado.

    Não só do sangue se assemelhava, uma luz oriunda da raiz era a suficiência do seu contentamento. Ciente estava de que a distância entre eles não se limitava em alguns degraus da escadaria, mas sim em um grande abismo. Esse aos outros, invisível. Real apenas aos seus olhos. Se manteve a observá-la.

    Não a ama, de amor, na verdade, pouco (ou nada) sabe – quanto a isso ele não importa. Não a quer em seus braços, pois a impossibilidade do toque é o que lhe encanta. Apenas a ideia de ter os cabelos dela entrelaçados a sua pele, já era o suficiente. Carne alguma substituiria o prazer da idealização e a magia do seu pensamento.

   O percurso é longo, mas a ruiva se desfaz na luz como um estalo. Fechou o livro, saiu da varanda para buscar um café… Ele sabe que amanhã, lá pelas seis, ela volta.