Arquivo diário: janeiro 12, 2010

Direção ou concordância

  As coisas são carregadas de significados. Rabiscos, pinturas, fotografias… Todos são capazes de gerar impacto. Contudo, imagens nem chegam perto da representatividade que têm as palavras e sua infinidade de contextos; As maneiras com que se moldam e ganham vida no ar. Os diferentes jeitos de serem expostas…. Uma mesma palavra pode ir do esdrúxulo coloquial ao sublime erudito e rebuscado. Depende da forma, da estrutura e, não obstante, da intenção.

  Na Alemanha, em 1930, o Austríaco sobe os degraus de onde liberta seus gritos, arrojados e celestiais. Um som alemão soado como orquestra. A frente do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, no idioma: Nationalsozialistiche Deutsche Arbeiterparter. É expressivo, palavras de som agressivo, difícil agradar os ouvidos de quem não é acostumado, mas quem importa? Encantou eles, os alemães. Adolf, seu bigode e suas palavras eloquentes.

  Quem se esqueceria do “Eu tenho um sonho” de Luther King? Palavras históricas, discurso que nenhum museu poderá guardar. Palavras que fizeram o sonho da realidade negra ser compartilhado com outros milhões. “Sim, nós podemos”, disse o presidente… Palavras que fizeram campanha política e foram símbolo de uma reconquista nacional, sem ufanismo tolo, apenas esperança.

  “Não” e “sim” fazem toda a diferença, sem precisarem de adicionais.  Palavras dão título, nome, propriedade… “vá”, “faça”, “pare”, “silêncio”… As mais presentes são elas, as oriundas do fazer apelativo. Fazem da metonímia social, ser o “povo” a parte pelo todo… A elipse engole, o pleonasmo mantém o desnecessário. Hipérbato inverte e o anacoluto torna tudo um pouco bagunçado. É quase uma sociedade, uma metáfora de certo e errado que nem todo mundo enxerga.

  Ainda há quem conceitue “palavra” como um vocábulo representado graficamente ou um conjunto de morfemas! Absurdo, não? Clarisse não se limita: “A palavra é meu domínio sobre o mundo”.